por Jayme Silva

Grupo Escolar Cônego João Pio

Com quase um século, o Grupo Escolar Cônego João Pio é parte integrante do patrimônio histórico e cultural de São Domingos do Prata. Além d...

domingo, 16 de setembro de 2012

Minério de São Domingos

Um tema interessante e sugestivo para abordarmos é sobre a exploração e o potencial minerário do município de São Domingos do Prata. É interessante do ponto de vista histórico e sugestivo em razão do atual momento que se encontra o setor de mineração no Brasil, com muitos investimentos, grande valorização dos ativos minerais e a intenção do governo em elevar o valor sobre a retirada de substâncias de jazidas para fins comerciais, conhecido como Royalties mineral.
Foto 2 - Jazida do Lucas - anos 50
Embora a mineração não represente nos dias atuais a atividade âncora na economia do município, teve no passado um papel importante por ter promovido a geração de empregos e serviços que movimentaram, principalmente, as comunidades de Ilhéus do Prata, Santa Rita e Cônego João Pio, devido à extração do minério de manganês nas minas do Lucas e do Portão. Esse mineral foi um dos primeiros produzidos regularmente no Brasil e data do século XIX, quando o manganês do Estado de Minas Gerais era exportado para os Estados Unidos a fim de ser utilizado na siderurgia.
Fróes Abreu, geógrafo e cientista brasileiro, relatou em suas pesquisas que em 1916 já havia sido identificada a existência de notável jazida de manganês no distrito de Saúde (MG). Informações publicadas pelo Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM mencionam registro de lavra no ano de 1944 pela empresa Continental de Minérios LTDA na Jazida do Lucas, localizada aproximadamente a 5 km da Vila de Ilhéus do Prata. Posteriormente, cita relatório referente à Mina do Portão, que se situa na divisa do distrito de Cônego João Pio e o município de Dom Silvério, cujo titular é a Tratex Mineração LTDA.
Foto1 - 1922  - Jazida do Lucas
A atividade mineral em nossa região absorveu grande demanda de mão-de-obra para extrair, beneficiar e transportar em caminhões o minério de manganês produzido. Apesar dos efeitos positivos sobre a economia, deixaram lembranças amargas para muitas famílias que assistiram o sofrimento de parentes e amigos, vítimas de acidentes de trabalho. Problemas ambientais também deixaram suas marcas, como por exemplo, o episódio do rompimento de uma das barragens da Jazida do Lucas que, ao vazar bruscamente, transformou o Ribeirão Santa Rita numa avalanche, destruindo pontes, plantações e inundando com lama a parte baixa da Vila de Ilhéus do Prata. Este grave acidente, ocorrido na década de 70, é sempre lembrado pelos moradores antigos da comunidade e também aqueles que, como eu, testemunharam o fato.
Enquanto a produção foi facilitada pela abundância do minério de boa qualidade na superfície, estas jazidas foram beneficiadas pelo baixo custo operacional e provavelmente geraram boa rentabilidade. Com o passar do tempo, outras reservas começaram a ser exploradas em várias partes do país em condições mais favoráveis, aumentando assim, a oferta e a competitividade do setor. Estes fatos, aliados à logística e ao maior rigor das leis trabalhistas e ambientais, contribuíram para o enfraquecimento das atividades nas pequenas minas, como as existentes em nosso município.
Ainda existe aqui o minério com valor de mercado, hoje alojado em locais mais profundos e que, certamente, serão extraídos quando os benefícios compensarem os investimentos. Não podemos esquecer que o minério de São Domingos não se restringe apenas às reservas já conhecidas, mas a uma infinidade de minerais que aqui repousam, aguardando o momento para gerarem riquezas e desenvolverem nosso município, respeitando a sociedade e o meio em que vivemos.

Nota: Atualmente, a Mina do Lucas se encontra em regime precário de funcionamento, retirando em doses homeopáticas apenas as partículas de minérios segregadas no passado. A Mina do Portão tem uma produção limitada e há rumores de que a empresa que detém os direitos de exploração se prepara para aumentar a produtividade com aquisição de novos equipamentos.

Foto: 1, 3 e 4 - Gentilmente cedido por João Perdição
Foto:2, 5, 6 e 7 - Gentilmente cedido pela família de José Onofre

Saudações,
Serginho Rocha
Foto 3 - Sesmaria do Lucas - Registro de 1922
Foto 4 - Presença do minério na superfície - inicio da exploração
Foto 5 - Minas do Lucas - caminhões da empresa continental
Foto  6 e 7 - Minas do Lucas -  Comunidade em torno da Jazida
Abaixo registro de 2009 / Jazida do Lucas
Degradação e passivo ambiental
Lagoa utilizada na lavagem do minério
Vista da Jazida do Lucas 
Partículas de minério segregada no passado


sábado, 1 de setembro de 2012

Jayme Silva, parte da história de Vargem Linda

Jayme Silva
Vargem Linda me faz lembrar dos meus antepassados. Lá moravam os meus bisavós Jayme Silva e Maria de Araújo. Convivi apenas com minha bisavó Maria, que sempre nos visitava em Ilhéus e por lá passava longos períodos. Destes encontros restam-me lembranças do seu jeito carinhoso e amável. Já o meu bisavô partiu antes da minha chegada na família. No entanto, cresci ouvindo suas histórias e mais tarde conheci um pouco dos seus pensamentos através de suas escritas. Falar sobre Jayme Silva não é, naturalmente, uma tarefa fácil pra mim, mas ao abrir o baú do passado, encontro em suas anotações motivo e inspiração para expressar, neste espaço, um breve relato da sua vida.
Jayme Silva nasceu em 1880 no arraial de Santo Antônio de Vargem Alegre, hoje distrito de Vargem Linda, pertencente ao município de São Domingos do Prata/MG. Era descendente do Capitão Felício José da Silva, que lutou como voluntário na guerra do Paraguai. Contam os mais antigos da família que ele estudou no colégio interno Santo Antônio, que funcionou em Vargem Linda no final do século XIX. Sua formação escolar, certamente, contribuiu para desenvolver seus dotes literários. Interpretava o Latim, dominava o Francês e, curiosamente, possuía um acervo bibliográfico considerável para a época. Fascinado pela literatura, escrevia peças para teatro, poesias, discursos e artigos, sendo, inclusive, colaborador do jornal “O Prateano” que circulou no início do século passado na região. 
Papel timbrado de receituário
Casou-se em agosto de 1907 com Maria de Araújo Silva, professora e uma mulher que, literalmente, guiou Jayme em boa parte de sua vida. Tiveram quartoze filhos, sendo que cinco deles morreram antes de completarem dois anos de Idade. Era um autodidata e enquanto pôde exerceu a profissão de dentista, atendendo a freguesia de Vargem Alegre e localidades próximas. Ele mesmo confeccionava as próteses e peças em ouro utilizadas na época como estruturas das coroas dos dentes. Ensinou sua profissão a membros da família e pessoas da comunidade que foram acolhidos em sua casa.
No campo político, atuou como um líder comunitário e formador de opinião. Representou por dois mandatos o distrito de Vargem Linda na Câmara Municipal, em 1905 e 1912. Participou efetivamente de vários momentos da história do município, como por exemplo, da inauguração da luz elétrica em 1916 e do Grupo Escolar Cônego João Pio em 1921. Neste mesmo ano, recebeu o título Paramilitar de Tenente Secretário, através de carta patente 683, emitida pela Infantaria da Guarda Nacional da comarca de São Domingos do Prata. Em 1934, por intervenção do Estado, foi indicado para membro do Conselho Consultivo Municipal. Em 1935 integrou a comitiva de políticos da região que recepcionou Getúlio Vargas em João Monlevade, por ocasião do lançamento da pedra fundamental da Usina Siderúrgica Belgo Mineira. 
Por aproximadamente dezessete anos de sua vida, ficou deficiente visual, devido a uma doença ocular que causou degeneração progressiva da retina, levando-o à cegueira total. Ele tentou, em vão, interromper a evolução desta distrofia no Hospital Central da Marinha no Rio de Janeiro, ficando em tratamento por mais 60 dias. Morreu aos 75 anos em sua casa na Vila de Vargem Linda, ao lado de sua esposa. Muitos de seus registros, cartas e documentos se perderam ao tempo após sua morte. Entretanto, pequena parte foi resgatada e compilada em formato de livro por intermédio de sua neta Ledice de Araújo, atendendo à sugestão de Dalila Araújo Silva, minha avó.
Saudações!
Serginho Rocha

                                                          Vargem Linda - início do século XX
 Rua Jayme Silva - ao fundo Igreja velha
1935 - Jayme Silva, em destaque -Solenidade com o Presidente Vargas
Maria de Araújo Silva e uma de suas netas
Carta Patente emitida pela Exercito Brasileiro