Segue um texto para refletirmos
um pouco!!!
Saudações!!! Serginho Rocha
(Mirian Leitão)
Nunca
mais a economia poderá ser pensada e planejada sem que a questão ambiental seja
parte da equação; nunca mais o meio ambiente será apenas uma paisagem. E daqui
para frente os debates sobre população terão sempre que ser feitos tendo como
pano de fundo os cenários de mudança climática. Com essas certezas,
desembarquei num debate semana passada.
Demógrafos
da América Latina e Caribe reuniram-se no Rio para fazer o encontro regional
preparatório dos 20 anos da Conferência das Nações Unidas Sobre População e
Desenvolvimento, no Cairo. Foi no IBGE, e eu estive na mesa que unia os três
temas — população, meio ambiente e desenvolvimento econômico. O cruzamento
desses três olhares é instigante e ajuda a entender certos definitivos da vida.
No
mesmo dia, nas minhas apurações para a coluna, consegui dados antecipados que
mostram um avanço aterrador do desmatamento na Amazônia em junho, mês em que
andei por lá e pude ver as toras mortas na beira das estradas em que trafegam,
impunes, os madeireiros. Aquelas manchas dos sinais de satélites, capturados e
processados por computadores em tempo real, não são uma abstração. Sei, de ver,
que a derrubada da floresta continua.
Economista
cético não entenderá os desafios econômicos dos próximos anos. Demógrafo que
não entendeu os riscos humanos criados pela mudança climática será surpreendido
pelos eventos extremos a que estará exposta a população.
A
região conseguiu nas últimas décadas uma redução expressiva da pobreza. No
Brasil, o núcleo mais duro da pobreza extrema está justamente no semiárido
nordestino, local mais vulnerável aos efeitos da mudança climática. Há riscos
de desertificação em outras áreas pobres da América Latina e Caribe. A longa
seca do Nordeste este ano lembra que estão atrasadas as políticas de adaptação.
Na
América Central e Caribe acumulam-se as evidências de que aumentarão as
tempestades tropicais e outros eventos extremos determinados pelas mudanças
climáticas. É preciso investir em prevenção de desastres.
O
mundo precisará de água, biodiversidade, capacidade de produção de alimentos. A
região tem tudo isso. Mas a América Latina não é um reservatório homogêneo de
recursos naturais. Há os mais e os menos produtivos. O derretimento das
geleiras do Peru e da Bolívia sustenta cenários de falta de água em Lima e La
Paz, entre outras cidades. Os rios amazônicos passarão por volatilidades
radicais. Já estão passando. Em 2010, houve a maior seca dos últimos 100 anos;
em 2009, a maior enchente de que se tem notícia. Água demais e, depois, tempos
de escassez exigirão entender melhor o novo regime hídrico. O princípio da
precaução recomenda não encher a região de empreendimentos agressivos ao meio
ambiente, nem aceitar o desmatamento.
A
América Latina e o Caribe sofreram ao longo de sua história com um modelo de
extração — em alguns casos, saques — das riquezas naturais, um projeto
econômico deliberadamente concentrador de renda e um mal disfarçado racismo que
opôs descendentes de europeus aos de origem indígena. No Brasil, entre brancos
e negros. Tudo isso sempre foi imoral e hoje é disfuncional do ponto de vista
econômico.
As
mudanças demográficas — o número de filhos por mulher caiu de 6 para 2,1 em
seis décadas — reduzirão os novos entrantes no mercado de trabalho. A
desigualdade e a discriminação de qualquer natureza são um risco hoje até para
as empresas e apequenam o mercado consumidor. Na economia do conhecimento, a
educação não poderá mais ser relegada. O desenvolvimento econômico precisará da
força dos cérebros. O modelo de saque desordenado das riquezas naturais e
desprezo ao capital humano pode levar à perda de ativos que farão falta no novo
mundo que se aproxima.
Claro
que os países podem ignorar esses imperativos; os debates acadêmicos,
perderem-se em questiúnculas; os administradores públicos, escolherem a
insensatez, e os lobbies retrógrados, vencerem mais uma vez. Mas o preço a
pagar pelos erros será maior agora.
Em
2004, quando o Brasil atingiu o segundo pior ano de desmatamento, 27 mil Km2 (o
primeiro foi 1995, com 29 mil Km2), começou uma ofensiva de defesa da floresta
que derrubou essa taxa ano após ano. Mas, ainda assim, desmata-se todos os
anos. Em 2012, foram 4,7 mil Km2. Há o risco de voltar a piorar. Quem subestima
esse risco, está desinformado.
http://oglobo.globo.com/economia/miriam/posts/2013/07/21/novo-mundo-504093.asp
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