Na madrugada do dia 21 de fevereiro de 2021 uma forte chuva caiu sobre a
cabeceira do Ribeirão Santa Rita e causou grandes transtornos para as
comunidades localizadas a jusante, especialmente no distrito de Ilhéus do Prata.
A tempestade ocorreu na mesma madrugada em que o município de Santa Maria de
Itabira foi atingido por chuvas torrenciais que ocasionaram deslizamentos de
terra, inundações e mortes na cidade.
Figura 1 – Aglomerados de nuvens na região de Ilhéus do Prata e Santa Maria de
Itabira registradas pelo satélite Meteosat às 2 horas da manhã do dia 21 de
fevereiro de 2021 Fonte: CPTEC/INPE – EUMETSAT 'copyright 2010-2012 EUMETSAT'
De acordo com relatos dos moradores, a chuva que caiu na região de
Ilhéus do Prata se intensificou por volta das 2 horas da madrugada e se
estendeu nas horas seguintes (Figura 1).
O grande volume de precipitação num intervalo curto de tempo provocou uma
espécie de “cabeça d’água” que se deslocou pelo vale do Ribeirão Santa Rita e
atingiu a comunidade de Ilhéus do Prata com a cota máxima de inundação sendo
sentida às 4 horas da manhã.
Figura
2 – Vista a montante sentido comunidade dos
Barros
Na comunidade de Barros, que fica acima de Ilhéus (Figura 2), duas pontes de madeira foram arrancadas e outras duas de concreto danificadas. As pontes de madeira arrancadas davam acesso ao terreno de Nôca, José Pedro e Perpétua. Já as pontes de concreto danificadas acessavam o sítio de Ninico e José Higino. Além dos danos mencionados, a forte inundação arrancou cercas de arame das propriedades situadas ao longo da várzea do ribeirão.
Em Ilhéus a situação foi mais séria. Duas pontes ficaram danificadas,
dois automóveis alagaram e uma motocicleta também foi atingida, além de casas
inundadas com a súbita elevação do ribeirão Santa Rita. De acordo com os
relatos de moradores e registros fotográficos, a onda de inundação elevou o
nível d’água acima do tabuleiro da ponte de Ilhéus, danificou o guarda-mão e
provocou recalque da emenda de ampliação da ponte feita pela prefeitura no ano
de 2008 (Figura 3)
As moradias localizadas no entorno da ponte também foram muito afetadas com a elevação do nível da água, a qual atingiu cerca de um metro de altura na parede das residências (Figura 4). Utensílios como máquina de lavar, guarda-louças e roupa de cama foram arrastados pelas águas e danificados, além dos automóveis tomados pelas águas conforme já mencionado. Felizmente foram registrados somente danos materiais e nenhuma pessoa ficou ferida.
Figura 4 – área central da comunidade de Ilhéus do Prata
Não é a primeira vez que acontecem inundações semelhantes a essa. Na manhã do dia 11 de fevereiro de 2009 também houve transbordamento do ribeirão e, na época, a emenda da ponte feita no ano anterior foi danificada (Figura 5). Com a cheia daquele ano, a venda do Edgar Cota foi inundada e o comerciante teve que contar o apoio imediato dos moradores locais para diminuir os prejuízos em seu comércio.
Figura 5 – Inundação e danos provocados pelas chuvas em 11Fev2009
Também há relatos de outras inundações desse porte em fevereiro de 1998,
1979 e em 1942. O comportamento hidrológico do ribeirão Santa Rita ainda carece
de estudos, mas os indícios sugerem um tempo de retorno (TR) de cheias como
essa a cada 10 anos, ou seja, mantendo-se o padrão, é esperada uma inundação por
década em Ilhéus.
Ilhéus também já foi atingido por um rompimento de barragem. Já se vão mais de 40 anos que a represa de água da Jazida do Lucas (local de onde foi explorado manganês) rompeu em decorrência do excesso de água acumulado devido às famosas chuvas de 1979. Mesmo passado tanto tempo, a inundação provocada pelo rompimento da represa ainda é um assunto frequente na comunidade.
A grande questão é que três represas ainda estão lá e, possivelmente, sem os devidos cuidados. Até então tudo certo! O problema será no dia em que naturalmente ocorrer inundação do ribeirão Santa Rita, como a deste ano de 2021 e, concomitante a cheia, a represa novamente se romper. Aí será aquele velho ditado popular: “salve-se quem puder”.
Matéria elaborada por: Joao Paulo Viera Cotta